Pesquisadora da Microsoft diz que há uma ideia errada sobre os dados e, por isso, eles podem ser grande ameaça a todos nós.

Datalândia. Assim que a pesquisadora da Microsoft Kate Crawford chamou o mundo permeado por dados ao qual estamos cada vez mais próximos, sobretudo com tendências como Big Data e Internet das coisas, durante a conferência do MIT Technology Review’s Emerging Technologies em Cambridge, em Massachussets (EUA). Ela elencou quatro mitos sobre o mundo dos dados – e por quê ela não quer viver na Datalândia.

Mito número 1: Dados são objetivos

Kate introduz o que ela chama de “fundamentalismo do Big Data” dizendo “fico preocupada quando eu escuto que a correlação de dados é como causa-consequência, e com massivos data sets e análises preditivas nós podemos obter mais ou menos uma verdade objetiva”. Ela exemplifica com os dados do Twitter à época do Furacão Sandy. Eles sugeriam que a área mais atingida e com piores danos seria Manhattan, em Nova York, enquanto a cidade com os piores problemas não tinha dado nenhuma na plataforma porque lá as pessoas não estavam tuitando. Sem energia, sem internet.

Outros dados web que se mostraram falsos foram as tendências do Google sobre a gripe. Autoridades diziam que eles seriam um bom termômetro sobre epidemias, mas falharam feio neste ano, com aproximadamente o dobro de número de vítimas do que as reportadas ao Ministério da Saúde norte-americano.

“Dados não são como recursos naturais. Dados são resultado do pensamento e criatividade humanos. Por isso, requerem uma enorme quantidade de cuidado e inteligência sobre como nós os usamos.”

Mito número 2: Dados não discriminam ninguém

“Dados não ignoram gênero, cor; profissionais do marketing os têm como uma melhor maneira de categorizar você”, diz Kate. Ela mencionou um estudo da Universidade de Cambridge o qual descobriu que, apenas com o perfil de uma pessoa no Facebook e suas preferências, é possível determinar com 95% de precisão o gênero, etnia, religião e o uso de drogas ou álcool de um indivíduo.

Ao público, a pesquisadora levantou a questão sobre como dados tão simples podem ser usados por agências, governos e outras organizações para secretamente discriminar as pessoas. “É uma preocupação legítima”, diz.

Mito número 3: Dados são excelentes equalizadores

Negar um serviço ou cobrar mais baseado na geografia é ilegal no mundo real. No mundo virtual, supostamente mais ecumênico, isso acontece o tempo todo, em todo lugar. As companhias decidem quem tem ofertas especiais e quem não tem, baseando nos dados. Um artigo recente na Scientific American argumenta que os ricos veem uma outra internet, diferente das dos pobres.

Na verdade, Kate afirma que as empresas sequer precisam de dados para fazer isso. Elas podem olhar para a atividade social e online das pessoas e, com um gráfico e modelos preditivos, decidem quem são as pessoas que interessam. Ela cita um exemplo recento no qual a Target seguiu as compras de uma adolescente e simplesmente concluiu que ela estava grávida. Assim, a varejista enviou cupons para itens relacionados à gravidez a sua casa – mas a garota ainda não tinha contado à família.

Esse caso ao menos chegou ao público. “Nunca saberemos de verdade quais fatores são usados”, diz Kate.

Mito número 4: na internet, você é anônimo

É talvez o cartoon mais conhecido na internet, mas está errado. Em 1993, Peter Steiner publicou na The New Yorker a imagem de dois cachorros por trás de um computador, para denotar que ninguém que se relacionasse com eles online saberiam que eles eram cachorros.

Em parte, não dá para ficar anônimo online por conta dos smartphones. As informações são coletadas e vendidas pelas operadoras móveis como Verizon e AT&T, nos Estados Unidos. Os dados supostamente são anônimos, mas Kate cita um estudo que revelou que são necessários apenas quatro pontos no espaço para identificar a maior parte das pessoas. “Nossos caminhos são únicos e consistentes”, aponta. “É extraordinário pensar como muitos desses dados são vendidos como ‘anônimos’ enquanto carregam tantas coisas capazes de nos identificar”.

Pior há aplicativos que podem mapear nossos telefones, roubando informações incluindo contatos familiares e de amigos.

Na Datalândia, há muita informação classificada com IPI, sigla em inglês para informação pessoal identificável. “Precisamos de mais ética nos dados”, afirma Kate. “A Datalândia está quase entre nós. Não podemos bancar um sistema sem opt out sobre coleta e uso de dados ou proteção para os cidadãos”, conclui.

Fonte: Information Week

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