“Quando pensamos como motivar pessoas, talvez devêssemos primeiro pensar em o que é o que nos mobiliza para uma acção intrínseca de empenhamento, de compromisso, de pactual assumpção dos valores, ideais, metas, objectivos que alguém nos propõe como fiáveis, seja em família, em círculos informais de comunhão de interesses, na sociedade ou nas empresas.”
Neste sentido, o termo engagement[1], com tradução pouco consensual e definida, pode aqui ganhar espaço, ainda que este conceito seja difícil de gerir, porque abraça fronteiras do indivíduo que não são propriedade pública, empresarial ou eventualmente de cidadania, e por isso, mais complicado será digeri-lo, no quotidiano de cada um, no estabelecimento das suas rotinas, no desenho dos seus processos, na inscrição dos seus objectivos.
Agora, quando a gestão de pessoas em tempos de crise se pauta pela necessidade, pela manutenção do status quo, inclusive, pela responsabilização do cargo ocupado que gere valor para o encargo daí resultante, que é sobretudo, e cada vez mais, o fardo emocional de percepcionar o antes e antever o depois que se compreende como após a prestação do serviço e o regresso ao ambiente familiar. E aqui, aos olhos dos gestores, devemos assumir que as relações são pontes perfectly engaged, e que muito frequentemente são desvalorizadas, reduzindo-as a meras ralações, questões de somenos importância. Lembremos que o principal focus da motivação passa pelo alcance da plenitude, pelo preenchimento do inner self e que a variável familiar e tudo o que lhe está inerente deve ser a última barreira psíquica, física e social a ser rompida.
Portanto, quando se aborda o fenómeno motivacional, devemos compreender que antes que as pessoas permitam que ocorra invasão, pela crescente e promíscua necessidade de controlo entre os domínios pessoal e profissional, muitas vezes consentidos, há que fazer acontecer a evasão, em corpo e alma, preferencialmente.
Assim, qual a mobilização das pessoas para a evasão? Curiosamente, coisas mínimas na esfera do Ser. A transparência, a verdade, a propriedade do que é genuíno. Aliemos estas características da personalidade à benevolência, e poderemos dizer que, naturalmente, as pessoas sentirão empatia, conforto e identificação corporativa.
Agora, como passamos para o estádio da motivação? Este é, claramente, um processo individual, de auto-apropriação da realidade, de construção subjectiva e onde poderão constituir parte integrante as experiências e vivências de cada um, a sua capacidade de aprendizagem e inovação, enquanto instrumento de proactividade personalística em tudo o que o indivíduo pensa, faz e sente.
Afinal, onde está o vencedor, o líder, o catalisador da mudança, o visionário que há em cada um de nós? Uns descobrem-no rapidamente e vão superando os seus “supostos” limites diariamente, outros vão aos poucos compreendendo a necessidade de introduzirem mudança, inovação, ruptura nos seus processos de vida e outros ainda nunca chegam a descobrir o seu imenso potencial de criação, libertação, enfim, de energia, porque afinal é disto que se trata o fluxo da motivação.
O suposto lirismo com que se transmite esta ideia, é a necessidade que temos de criar um espaço de positividade no nosso subconsciente que apesar de reconhecer o sofrimento, o sentimento da própria crise, garante ao mesmo a condição de que só o indivíduo consegue transfigurar-se, de forma crente e convicta, de que o único rumo possível é ser um bom condutor de energia de e para o seu subconsciente.
Pretende-se enquadrar o indivíduo, enquanto guardador de talento ao serviço das suas necessidades e reposicionando a sua identidade no plano do self, porque só assim pode existir Nós, para que subsista o Eu e persista o Tu.
No tocante ao indivíduo, enquanto empregado, hoje, mais do que nunca, a cidadania organizacional deve almejar o preenchimento de espaços que o Estado já não mais consegue suportar, mas não partindo do material, e sim criando momentos de gratidão, envolvimento, de celebração, reconhecendo as melhores práticas laborais e os elevados contributos de cada um para os sucessos.
Afinal, hoje não é fácil prometer dar, quando se pode cumprir, oferecendo. Estaremos a trabalhar na gestão dos intangíveis, desenhando um passeio da fama (qual hollywood style) associado à obra diária, iluminando esse percurso, emoldurando momentos, glorificando faces e dignificando nomes. Este é seguramente o melhor presente para a motivação que aqui ganha uma dimensão de prime time na gestão empresarial…
Motivar, é estar presente. Dizer presente. Criando teias de (inter)acção disciplinares, propiciando sinergias, economias de escala corpo-alma e associações comportamentais que se traduzem em verdadeiros win-win para todas as partes.
Hoje, tanto na sociedade civil e, de igual modo, no meio laboral, as boas práticas apontam no sentido da aposta no Ser em detrimento do Ter, e previamente ao Estar. Apenas porque o Ser, implica a possibilidade de questionamento do status quo, de ruptura, de adaptabilidade, personificação de comportamentos (acção e reacção) e se a vontade é vencer, progredir e mudar, há que saber ceder sem comprometer, criando tempos de (auto)conhecimento e gerando espaços para estabelecimento de cumplicidades, laços, enfim, Confiança.
A motivação pressupõe inteligência na abordagem, pelo que a principal ilacção a tirar é, se a união faz a força, porque não suportar um élan baseado na franqueza, naturalidade, firmeza mas cultivando a abertura e isenção.
Essa será a antecâmara de algo ainda maior, onde todos poderemos descobrir (mais) heróis nas encruzilhadas da própria vida, e porque não sermos um herói para alguém num dado momento, poderemos sentir (com)paixão e gratidão nos diferentes momentos, fazer sobressair autenticidade nos laços que constituímos seja em que dimensão da vida for, incrementando os nossos ideais e valores, trabalhar o nosso interior no conhecimento das nossas forças e da sua optimização ao serviço dos nossos sonhos, vontades e sobretudo, a nossa Visão.
Teremos de viajar dentro e fora de fronteiras, absorver novos aromas e fragrâncias, celebrar e celebrar, aprender sempre, sermos pacientes, não desistir porque se aumenta a cadência da nossa resistência à mediocridade mas também perceber que só com trabalho duro, rigoroso, inovando em processos para alcance ou superação de resultados, poderemos ser a melhor pessoa que conhecemos e fazer com que a nossa Vida ganhe sentido, forma e profundidade.
Este seria o melhor tributo à (nossa) Motivação!
Fonte: Nuno Silva – Responsável Local RH – Groundforce Portugal
Nota do autor: O signatário escreve de acordo com a antiga ortografia.
[1] Engagement – em tradução para português, e com recurso à comunidade web, o conceito não é específico, aplicando-se a termos como compromisso, envolvimento, obrigação, noivado, contrato, encontro. No contexto empresarial, e mais concretamente no âmbito RH, a tradução literal fará mais sentido quando se fala de uma fusão entre compromisso e envolvimento.
Obrigado Nuno pela partilha desta análise tão importante e tão sábia
Bem hajas Nuno Silva! Parabéns pelo artigo.
Na qualidade de ex-colega do Nuno Silva só posso confirmar veementemente as ideias realistas que lhe vão na alma e no coração.
Se alguém me deu provas de ser verdade, me ensinou e me relembrou que “motivar, é estar presente”… foi sem dúvida o Nuno Silva, o qual muito tem contribuído para o desenvolvimento profissional, humano e até mesmo afetivo de muitos colegas e amigos.
Com um especial abraço amigo, fica um até sempre e até breve.
Obrigada Nuno pela partilha de informação com a qual concordo inteiramente!!
Nesta fase dificil que estamos a viver dentro e fora do tecido empresarial e já com implicações profundas na vida individual/familiar mais privada (o núcleo duro e inviolável) num modelo de “spill over” quase irreversivel é mesmo imprescindível que levantemos a bandeira da “sobrevivência” e nos lembremos de tantos que ao longo do tempo, pelo seu engenho e motivação individual, criaram a história e nos permitiram chegar ao patamar de desenvolvimento que hoje conhecemos e desfrutamos! é a necessidade que aguça o engenho e para isso a Motivação de alterar o nosso rumo tem mesmo de ser interinseca! Vamos lá!
Nuno , não podia estar mais de acordo com as tuas palavras sabias .
Nesta fase difícil e complicada para todos não existe a mínima duvida que a existência de motivação e importante superar estes tempos de loucura …….
Um grande abraço